segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Chamonix - Alpinismo

À descoberta do desconhecido,

em jeito bem Português!

Decidido há já alguns meses, o destino de férias para este verão, Chamonix – Alpes, iria permitir desfrutar de uma prática que nos agrada e bastante prazer nos proporciona, Alpinismo. Ainda por cima no próprio local que lhe concedeu o nome…

Topo do Mont Blanc du Tacul, vista para o

Mont Maudit e Mont Blanc por trás!

À partida de Lisboa, éramos cinco – Eu e a Susana, o Pedro Palheiro, a Marta Palma e a Rita Marques.

Saímos às 4 horas de dia 19 de Julho, com muitas ambições e vontade de conhecer aquelas paragens. Antes disso tínhamos que vencer os 2000 km que nos separam do centro da Europa.

Como o esticão era grande, foi decidido quebrar a viagem ao meio, com uma paragem estratégica nos Pirenéus, outro local de grande beleza e com óptimas condições para a prática de montanhismo. Assim o local de paragem foi Gavarnie. Quem conhece sabe que este vale glaciar, com enormes cascatas (que fazem as delicias de quem gosta de escalar gelo, mas no Inverno), nesta altura do ano, encerra umas paisagens de montanha deliciosas. De manhã cedo, após uma chegada ao vale debaixo de muita chuva, fomos surpreendidos com uma soalheira manhã a convidar uma visita às bases das cascatas (a maior com cerca de 800mts, imaginem este desnível).

Foto Gavarnie

Pela hora de almoço retomámos à estrada a fim de acabar a viagem.

Pelas 2 da manhã de dia 21 lá chegamos a Chamonix (altitude, cerca de 1000 mt) debaixo de chuva.

Foto de Chamonix

De manhã, e debaixo de um sol radiante, e temperaturas quase abrasadoras, fomos à Maison de Montagne, onde ficamos a saber que havia previsão de bom tempo para os dias a seguir. Ao saber destas notícias, precipitámo-nos para o teleférico da Aguille du Midi, que nos colocava a 3842 mt de altitude, de onde pensávamos descer até ao Vale Blache, para daí sairmos numa das vias mais bonitas (via dos 4 miles) para o Monte Branco (4808 mt).

Na manhã seguinte a chegarmos à Aguille du Midi

Chegados à plataforma superior do teleférico, equipamo-nos a rigor, e abordámos a saída da plataforma. Eis que surge a dúvida se devíamos descer até ao vale ou ficar por aqui. As fracas condições de visibilidade daquele final de tarde e as reticências colocadas por alguns dos membros desta nossa expedição, foram determinantes para que a pernoita fosse mesmo na plataforma. Chamei-lhe pernoita, mas esta foi só para alguns… Eu mal consegui dormir, pois por volta da 1 da manhã, não mais consegui pregar olho… A altitude estava a afectar-me. Cheio de dores de cabeça e indisposto lá me fui aguentando até que decidi pedir por um comprimido, que somente aliviou um pouco os sintomas.

De manhã e depois de apreciadas as vistas, agora já com boa visibilidade, foi decidido baixar, para ver se os sintomas sentidos por mim, melhoravam. Neste dia enquanto eu descansava, o resto do grupo foi fazer um trekking até ao Mer de Glace.

Foto Mer de Glace

No final do dia, em Chamonix, já me sentindo melhor, fui ainda escalar para Les Gaillands, uma escola de escalada bastante conhecida por aquelas bandas.

No dia a seguir, depois de uma nova passagem na M. de Montagne, decidimos subir ao Col du Montets (3300 mt), mais um teleférico nos levava até lá, e o plano era bivacar mais abaixo, tentar subir à Petit Aguille Vert e descer para o Glaciar de Argentière, pois as previsões mantinham o tempo estável, e desta forma fazíamos uma melhor habituação à altitude, a fim de aclimatar.

Chegados à última plataforma do teleférico, a visibilidade estava aceitável, mas com tendência a fechar. Aí fomos alertados por dois espanhóis que se instalavam para passar a noite, que as condições de acessibilidade à via, bem como as passagens do Glaciar estavam em más condições. Ficamos um pouco desmoralizados e acabamos por ficar por ali.

No outro dia de manhã, arrancamos encosta acima, fintando umas crevasses, e chegamos ao local onde os espanhóis afirmavam estar em más condições. Não passava de um pequeno sérac de inclinação positiva e que se subia com relativa facilidade e segurança. Nesta altura o Pedro e a Marta, decidiram voltar para trás, pois a partir daqui a subida complicava e estes decidiram ficar a fotografar, apreciar as paisagens e regressar até ao ponto de partida. Eu e a Susana continuamos em direcção ao topo. Enquanto subíamos, nos céus, pairava o helicóptero de resgate, e ficamos a saber mais tarde que estavam a retirar um grupo que se encontrava mais acima, e que devido a uma queda de pedras, tiveram azar e um dos membros, ficou magoado. A via ia ficando mais técnica, e com diversos passos em rocha, que obrigava a montar seguranças e a progredir com mais lentidão. Enfim, a paisagem estava magnifica apesar de não estarmos completamente solitários, já que se encontravam outros grupos a fazer o mesmo que nós. Já a chegar ao topo, e com a vista de todo o vale por baixo de nós, comemos umas barritas e começamos a nossa descida. De regresso juntos aos nossos companheiros, descobrimos que estes se encontravam preocupados a pensar que teria acontecido alguma coisa connosco, pois aquela situação com o helicóptero, tinha-os deixado a pensar que poderia ser algo. Depois de mais umas fotos e um pequeno passeio pelo glaciar, descemos de volta a Chamonix.

Depois de mais algumas indecisões e mais um dia na escalada, em que a tarde demonstrou uma bem típica “orage” (tempestade) que nos criou dúvida se a nossa sorte teria acabado, em relação à meteorologia. Foi nesta altura também que o Pedro e a Marta abandonaram a expedição, devido a falta de tempo, neste intervalo laboral que fizeram. Tudo já estava previsto, e estes apanharam um comboio com direcção a Zurique, onde apanhariam o avião para fazer a viagem de regresso à pátria. Quem ficou aproveitou para descansar, recuperar, e escalar mais um pouco.

Agora que o grupo encurtou, e depois de conferidas as condições para os próximos dias, decidimos fazer uma última tentativa de ascensão a um quatro mil. De seu nome Mont Blanc du Tacul – 3248 mt. A estratégia era subir novamente ao Vale Blache, onde íamos pernoitar, e de madrugada atacar a via para este cume. A Rita decidiu ficar em Chamonix, e experimentar hidrospeed no rio Arve. Não fomos mais ambiciosos, e tentar o Mont Blanc, já que o joelho da Suzy não nos dava garantias de conseguir aguentar o percurso, já que este implicava um desnível vertical e percurso maiores.

Mont Blanc e Maudit ao centro, e Mont Blanc du Tacul à esq.

apesar de parecer da mesma altura na realidade não o é!!!

Chegamos rapidamente ao Vale Blanche, a fim de montar a tenda, descansar e fazer líquidos para hidratarmos, pois estávamos com medo do final de tarde, pois os anteriores tinham estado péssimos. Ao chegarmos falamos com um casal que encontramos e estes disseram-nos que as últimas noites tinham sido um pouco más, até tinha caído neve.

Não esmorecemos e montamos o nosso bivac, tiramos umas fotos e efectuamos um pequeno filme, e começamos a fazer líquidos.

Pelas 20h quando estávamos a pensar começar a dormir, recebi uma SMS do Rui Rosado, que tinha tentado contactar antes de subir, a dizer que se encontrava de novo em Chamonix. Quando lhe disse onde estava e o que pensava fazer, este aconselhou-nos uma partida bem cedo. Foi o que fizemos e pouco depois estávamos a dormir para acordar bem cedo.

Acordamos às 2 horas, e já muito movimento se via na encosta do Tacul, pois esta é a via para o Mont Blanc. Pelas 3 da manhã saímos do nosso bivaque, avançamos para o início da via (que coincide na parte inicial com a via para o M. Blanc) todos equipados e encordados. Quando chegamos à base deste já cá não se encontrava ninguém, e não se vislumbrava qualquer movimento à nossa frente, pois quem seguia para o M. Blanc teria que começar obrigatoriamente mais cedo.

Para chegarmos a este ponto, atravessamos umas crevasses, e serpenteamos uma pendente bastante inclinada para evitarmos uns valentes séracs.

Duas horas depois de arrancar estávamos no colo, mais ou menos na zona onde a via do M. Blanc se separava da nossa. Aqui neste local observámos a fila enorme de gente que estava para passar a pendente mais inclinada do Maudit, com os seus frontais ligados, e ainda todo o recorte do Gouter, outra via clássica para o M. Blanc. A imagem que me vinha à cabeça era de um bolo de anos com dezenas de velas acesas por cima do chantilly.

Lá avançamos para a esquerda em direcção ao topo do nosso objectivo. Mais 45 minutos e encontramos uns passos em rocha onde montámos umas protecção e assim chegámos ao nosso destino. Aqui encontrava-se uma cruz em alumínio que marcava o topo. Descansámos um pouco, comemos umas barritas, tirámos umas fotos e deixámo-nos encantar com o nascer do sol a apreciarmos a vista sobre o nosso redor. Como estávamos num local bastante exposto, o frio começou a atacar, decidimos voltar ao ponto de partida. Um dos factores gratificantes desta ascensão foi o facto de a termos feito sem nos termos cruzado com ninguém. É certo que se encontrava dezenas de pessoas cá por cima, mas nunca nos locais onde andávamos. Assim continuou.

Começamos a descida, agora já não era necessárias lanternas frontais, e apesar de descer custar quase mais do que subir, pois as pendentes eram muito inclinadas, a vista fazia esquecer o esforço.

De volta ao Vale Blanche, desmontamos a tenda e depois de descansar um pouco e comer algo, carregamos as pesadas mochilas de volta a Chamonix, onde nos esperava a Rita.

Nesse dia não fizemos mais nada senão passear, e descansar.

Sexta-feira dia 28 de Julho, o dia estava chuvoso, com algumas abertas e este seria o último dia que podíamos ficar por aqui. Ainda fomos visitar uma escola de escalada mais a Norte, mas a seguir ao almoço começamos a nossa viagem de regresso a terras lusas.

O trânsito que apanhamos foi incrível. Imaginem o que é andar na 2ª Circular, em hora de ponta, quilómetros a fio. Isto foi o que se passou nas auto-estradas francesas. A dada altura na rádio ouvia-se 15 quilómetros de “bouchon” (fila) precisamente onde íamos passar. Foi nesta altura que decidimos fazer um desvio até uma zona no Sul de França – SETE. Zona balnear, muito bonita e que aproveitámos para nos banhar no mediterrâneo. Depois de jantar iniciamos a viagem até Andorra.

Sábado, dia 29, depois de efectuadas umas compras, e com os plafonds dos cartões esgotados nesta zona franca, retomámos a viagem, por volta das 21 horas. Com vontade de regressar à terra natal, fizemos a viagem de seguida, só com uma paragem para jantar. Às 9 da manhã estávamos a atravessar a fronteira, e às 11 de volta a Lisboa.

Contas feitas:

- 12 dias de viagem;

- 9 dias em Chamonix;

- Duas famosas cadeias montanhosas visitadas;

- 3 Países;

- 4538 Km efectuados;

- 57horas e 22 minutos de viagem de carro;

- 108 Km hora de média;

- 10.3 Litros de média de consumo;

- 79.450 Kg – o meu peso no final da viagem, que normalmente ronda os 83 kg;

- € 181.55 de portagens;

- € 254.09 em combustível;

- € compras não divulgo;

- milhares de pixéis e MB em fotografia;

- muita vontade em regressar e tentar mais e melhores vias…

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