quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Raid Millet

A ideia de participar nesta prova surge do cenário em que esta decorre, Chamonix – Mont-Blanc, no coração dos Alpes. Para atletas que correm no nacional de corridas de aventura, e simultaneamente praticantes de montanhismo e alpinismo, puder participar num raid naquele cenário e com aquela envolvência, seria um sonho…

Como queríamos que deixasse de ser um sonho e se tornasse antes uma realidade, metemos mão à obra a fim de estarmos à partida no RAID MILLET Chamonix Mont-Blanc ULTRA.

Depois de vários contactos com a organização para entendermos claramente de que forma se realizava esta prova bem como os preparativos que necessitávamos, e de termos assegurado a nossa inscrição através de um patrocinador francês a BV SPORT, que viabilizou todo o projecto e a quem agradecemos, começámos os preparativos para a viagem (aquisição dos bilhetes de avião, marcação de estadia e aluguer de BTT, para não nos preocuparmos com a logística destas), para além disso intensificámos os treinos já que a decisão da nossa participação só se deu bastante tarde.

Chegados à data, lá arrancaram os três atletas (Carlos, Rui e Filipe) em direcção a Genéve, para daí efectuarmos o transfer para Chamonix.

Para a prova eram anunciados quatro dias de prova com perto de 130 km (?), e cerca de 8500 de desnível acumulado. Para além disso era anunciado a subida ao Brévent, a passagem pelo Lac Blanc, e uma etapa a começar na Suíça. As distâncias divulgadas deixavam-nos intrigados, pois em Portugal numa prova de dois dias da Taça de Portugal de Corridas de Aventura (FPO), facilmente se chegam aos 200 km, mas que mais tarde viemos a descobrir que estas distâncias eram bem suficientes e que nos trariam bastante trabalho para as vencer.

1º dia:

ETAPE 1

SECTEUR AIGUILLES ROUGES :

Kilométrage : 32.200 km

Dénivelé (+) : 1860 m

Dénivelé (-) : 1860 m

Tínhamos para o primeiro dia, o que a organização chamava de prólogo, declarados 32 kms e perto de 1900 mts de desnível positivo. Para isso havia secções de trail-running, orientação em BTT e ateliers de cordas. Viemos a descobrir que o prólogo era tão só a etapa mais dura de toda a prova, e que as distâncias máximas declaradas eram muito enganadoras, já que com a altimetria normal desta zona do globo, nada é fácil de vencer já que estamos num mundo de verticalidade. O ex-líbris do primeiro dia era um CP que se encontrava no alto da Aguilles Rouges junto ao Brévent (teleférico de serviço deste lado do vale de Chamonix), que se encontrava a 2585 mts de altitude e de onde facilmente se via o ponto de partida, quase 1600 mts mais abaixo.

O acesso aos CP’s que se encontravam nesta zona tinha um limite horário de entrada, que conseguimos cumprir por apenas 15 minutos de tolerância, e encontrava-se aos 2000 mts, zona a partir da qual se encontrava a isotermia 0 graus, o que significava que a partir daquele local estávamos a correr em terreno nevado. Foi impressionante ver aquela quantidade de atletas a correr em equipas pelos trilhos gelados como se estivessem a correr numa qualquer pista de corta-mato, a cadências muito elevadas e aquela altitude. Esta foi a principal dificuldade sentida por nós. A descida de volta a Chamonix para terminar a etapa, foi quase tão dura como a subida, e aqui a diferença para as equipas locais ainda se notava mais. Pelo caminho foi efectuado um atelier de cordas com via ferrata, rappel e escalada nos Gaillands. A nossa equipa terminou bastante cansada, devido às condições encontradas, que não são as mais habituais para a nossa realidade, e também devido à viagem que tínhamos efectuado no dia anterior. O resultado deste dia ditou o resto das classificações nos dias posteriores, 35º em 42 equipas, um resultado singelo, mas ficamos com sensação de dever cumprido, atendendo às circunstâncias.

2º dia:

ETAPE 2

Secteur LES HOUCHES – ST GERVAIS :

Kilométrage : 46.000

Dénivelé (+) : 1440 m

Dénivelé (-) : 2430 m

A prova começava novamente em Chamonix, com secções de Run and Bike, Trail (com um mapa de orientação da Federação Francesa de Orientação muito bom, e que nos correu muito bem), Btt com trilhos belíssimos e boas descidas, e corrida. A Etapa terminava em St. Gervais, uma zona bastante conhecida para a prática de desportos de neve com muitas pistas e meios mecânicos, e que nesta altura primaveril, evidenciava o prado alpino no seu esplendor e com a meteorologia a ajudar bastante, com um sol a raiar sobre o verde das encostas. Foi um dia que nos correu bastante bem, já que boa parte da prova foi em orientação, modalidade que dominamos bem, e em que uma boa estratégia pode dar vantagem. Subimos para 30º.

3º dia:

ETAPE 3

Secteur FINHAUT (suisse) - CHAMONIX:

Kilométrage : 34.000

Dénivelé (+) : 1300 m

Dénivelé (-) : 2100 m

Para o terceiro dia de prova, estava reservado um dos trunfos da edição deste ano, o inicio de etapa em Finhaut na Suíça. Depois de um transfere de comboio até aquela vila, deu-se inicio a mais 34 km de prova, 1300 mts de subida e desta feita mais 2100 de descida, que beneficiou a modalidade de BTT. Começou por Trail-running onde subimos de novo aos 2500 mts de altitude, para depois descermos até Chamonix. Foi escolhida para além desta modalidade de Run and Bike, Btt, cordas e orientação pedestre. Foi bonito descer todo o antigo vale glaciar, a acompanhar o L’Árvre e passando por Montroc e Argentiére nas várias modalidades. Um final ao sprint. Este foi o dia em que algo insólito aconteceu a meio deste dia. Num atalho que decidimos fazer entre duas estradas, entramos num caminho particular de acesso a uma vivenda, fomos interpelados por uma senhora que nos perguntou para onde íamos, e de seguida deu-nos indicações para chegar mais rapidamente ao caminho. Finalmente perguntou-nos qual era a língua que falávamos, tal foi o nosso francês, respondemos-lhe que falávamos português, e logo nos respondeu que também… ainda ficámos um pouco à conversa e descobrimos que a senhora era da Régua, depois de lhe agradecermos, seguimos o nosso caminho.

4º e último dia:

ETAPE 4

Secteur CHAMONIX – ARGENTIERES :

Kilométrage : 35.000

Dénivelé (+) : 1900 m

Dénivelé (-) : 1900 m

A derradeira etapa. Passagem novamente pelos 2400 mts de altitude pelo Lac Blanc, e uma vista fenomenal sobre o Glaciar do Mer de Gláce. Inicio da etapa em massa de madrugada, ainda de noite, em trail-running com uma subida a uma velocidade infernal, onde deixamos muito cedo de ver as equipas da frente. Esta etapa terminava em Argentiére, onde se efectuava uma etapa circular em BTT. Dava então início a uma secção de orientação pedestre com um mapa pouco amistoso e com cp’s em quantidade, com hora limite de fecho e penalizações em tempo para que não efectuasse todos os CP’s. De seguida mais BTT com uma paragem para efectuarmos um atelier de cordas com rappel, via ferrata e uma ponte tirolesa a atravessar uma linha de água. Na última etapa uma corrida infernal para terminar no palácio dos desportos de Chamonix, para a festa final e entrega de prémios, onde as equipas francesas dominaram, com a equipa vencedora – ERTIPS (15:51:21), mas onde o primeiro lugar para os femininos foi para uma equipa belga – Les Ouftiettes Celestes (15º da geral a 21:27:15) que nunca deu hipótese à concorrência.

A participação Lusa foi modesta, pois terminámos em 36º lugar com 29:52:02, no entanto ficamos orgulhosos da nossa participação já que efectuamos todas as etapas, falhamos poucos CP’s que resultaram em penalização em tempo que é somada à classificação final, mas estávamos à chegada ainda cheios de força e vontade em continuar apesar de cansados, muito cansados! Contagiamos os participantes e organização com a nossa boa disposição, já que éramos os únicos que não falávamos francês, o que provocava uma grande risota e atrapalhação na comunicação entre as partes.

Para esta equipa resta arranjar forma de cá voltarmos para o ano que vem, e eventualmente procurar outros horizontes, quem sabe ainda mais longe.

fgomes


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